Desenho de Jaime Serra – interrogatório da PIDE
Jaime Serra nasceu em Lisboa a 22 de janeiro de 1921, o mesmo ano em que, a 6 de março, seria fundado o Partido ao qual militantemente dedicou toda a sua vida, o PCP.
Oriundo de uma família de trabalhadores, ainda na infância Jaime Serra tomou contacto com as lutas do mundo operário, a imprensa e a literatura revolucionária através de seu pai, estivador e ativista anarco-sindicalista, que o incentiva a ler e a instruir-se. Tendo ficado órfão do pai muito cedo – teria Jaime Serra cerca de 10 anos -, foi obrigado a abandonar a escola e a procurar trabalho. Aos 12 anos encontrava-se a trabalhar na construção civil nas novas oficinas da CP no Barreiro, Vila onde vai conhecer a dureza da vida na sua condição de menino operário, num período em que o fascismo estava em ascensão na Europa e em Portugal o salazarismo reprimia brutalmente, prendia, torturava, deportava e não hesitava em assassinar quem se lhe opunha.
Aos 16 anos Jaime Serra adere ao PCP e é preso pela primeira vez, em 1937, quando distribuía clandestinamente o jornal Avante! Passará à clandestinidade como funcionário do PCP, tal como a sua família, depois da greve de 1947 no Alfeite, onde trabalhava como traçador naval havia sete anos. Em 29 de Março de 1949 é preso pela PIDE em Lisboa, sendo transferido para a prisão de Caxias e, depois de julgado em Tribunal Plenário e condenado a 3 anos e 6 meses, segue para a Fortaleza de Peniche. É da prisão-Fortaleza de Peniche que se evade, na noite de 2 para 3 de novembro de 1950. Capturado pela PIDE em 1954, foi enviado para a Cadeia do Aljube, de onde tenta evadir-se, mas é descoberto. Entre interrogatórios e torturas, como a estátua, são constantes as transferências de Caxias para o Aljube durante 1955-56. Até que em 3-3-1956, mais uma vez a audácia e a persistência de Jaime Serra em se libertar das garras do fascismo são compensadas numa nova evasão, desta vez de Caxias.
Continua a lutar pelo derrube do fascismo e, na sequência da repressão que se seguiu às eleições do General Humberto Delgado, voltará a ser preso pela polícia política na Delegação da PIDE no Porto, em dezembro de 1958. Será enviado novamente para Peniche. É aí, com Álvaro Cunhal que também lá se encontrava preso e ainda Joaquim Gomes, que preparam a fuga coletiva de 3 de janeiro de 1960. Ação que constituiu uma grande derrota para Salazar e uma estimulante vitória para a resistência antifascista.
A partir de 1970 Jaime Serra é destacado pelo PCP para o Comando Central da Ação Revolucionária Armada (ARA), que tinha como missão apoiar as lutas de libertação nacional dos povos das antigas colónias portuguesas, chegando a realizar ações de grande impacto ao sabotar equipamentos destinados à Guerra Colonial, como a destruição de várias aeronaves em Tancos, em 1971. A ARA suspende as suas ações em 1973, considerando que seria a luta de massas que levaria à queda do regime.
Após o 25 de Abril Jaime Serra foi com Álvaro Cunhal ao 1º encontro do PCP com a Junta de Salvação Nacional, na noite de 30 de abril de 1974. Seria eleito deputado à Assembleia Constituinte e posteriormente à Assembleia da República.
Das suas obras publicadas destacam-se: 12 Fugas das Prisões de Salazar; As Explosões que Abalaram o Fascismo – o que foi a ARA; O Abalo do Poder… do 25 de Abril de 1974 ao 25 de Novembro de 1975; Eles Têm o Direito de Saber – páginas da luta clandestina.
O Museu Nacional Resistência e Liberdade felicita calorosamente Jaime Serra, pela passagem do seu 100º aniversário.
Fontes:
Entrevista RTP
Avante!
Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Desenho de Jaime Serra feito na prisão
Fonte: PT-TT-PIDE-E010-96-19050-c0056
Arquivo Nacional da Torre do Tombo