O dia 1º de Maio de 1936 amanheceu sob grande alvoroço na vila piscatória de Peniche, que foi surpreendida com uma ação massiva «de agitação subversiva comunista», segundo as fontes policiais. Pelas paredes e ruas da vila haviam sido colados e distribuídos por baixo das portas, nos barcos de pesca e em alguns edifícios públicos, jornais e manifestos clandestinos como o “Avante” e “O Proletário”. Também nessa noite foram efectuadas «pinturas subversivas, a distribuição de jornais e manifestos comunistas e a colocação de bandeiras com o emblema da Russia soviética» e escritas nas paredes as frases “Viva o P.C.P.” – “U.R.S.S.” e “S.V.I.”.
Durante umas horas as bandeiras vermelhas flutuaram ao vento «nos edifícios dos Correios e Telegrafos, Capitania do Porto de Peniche, Posto da Alfândega e Central Electrica, bem como nas obras do Porto de Abrigo e numa árvore junto da Escola Oficial».
Estava-se em plena ditadura fascista e esta ação de propaganda relâmpago realizada por um grupo de pessoas de Peniche, que os relatórios da PVDE denominaram «Organização Comunista de Peniche», apanhou de surpresa as autoridades locais. A PVDE imediatamente procedeu a buscas em várias casas de Peniche e arredores, acabando por prender e perseguir várias pessoas, três das quais foram acusadas de ser os autores do feito.
No entanto, esta não era a primeira vez que tal ocorria pois, um dos arguidos do processo instaurado pela polícia, José da Costa, já no ano anterior «no mês de Novembro ou Dezembro de mil novecentos e trinta e cinco, também distribuiu e afixou jornais e manifestos subversivos, tendo também executado pinturas subversivas em vários pontos de Peniche, as quais diziam: – “Aministia” e “Viva o Comunismo”».
Além de José da Costa, foram ainda detidos Saúl Gonçalves e Alberto de Jesus Salsinha. Acabaram todos julgados em Tribunal Militar Especial, tendo sofrido pesadas penas, como se pode ver pelas suas fichas prisionais. A documentação relativa a este caso encontra-se no Arquivo Histórico Militar, Lisboa.
Quando passam 84 anos sobre este acontecimento, o Museu Nacional Resistência e Liberdade evoca a memória deste acto corajoso e o percurso de vida dos três cidadãos de Peniche na luta contra o regime fascista, que, durante meio século oprimiu os portugueses.