“[ A comuna] Consistia no facto que havia presos de vários estratos sociais, uns recebiam coisas da família com mais frequência, outros não recebiam ou recebiam lá de longe em longe. Eu por exemplo não tinha visitas, só de tempos a tempos é que tinha visitas, porque a minha mulher estava no Algarve, a 300 quilómetros de distância.
(…) Havia a comuna, e o que era a comuna? Era, por decisão voluntária, ninguém era obrigado. Podia aparecer um caso ou outro que não quisesse aderir, mas não era bem visto. Se eu, que tinha visitas, recebia coisas com frequência, e estava a comer doces, a comer fruta e os meus camaradas estavam ali ao lado e não tinham, na nossa mentalidade, isso não podia acontecer, nem na mentalidade de uma pessoa bem formada, mesmo que não seja comunista, isto não pode acontecer. Depois havia camarada que não tinha sequer dinheiro para comprar artigos de higiene, para fazer a barba, lavar a boca e a família vivia na miséria, então no Algarve, por vezes a família ficava cheia de fome.
A Comuna servia para isto, juntávamos os víveres que as famílias traziam: bolos, manteiga, marmelada, leite condensado, naquele tempo havia muito leite condensado (…).»
In Vidas na Clandestinidade, Ed. “Avante”, 2011
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